Para atravessar contigo o deserto do mundo

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Este poema de Sophia de Mello Breyner de 1962 tem como tema a transição, citando o poema, "Por ti deixei meu reino meu segredo" e "E aprendi a viver em pleno vento" ou seja, a perda do mundo do sujeito poético e todo o sofrimento que isso lhe causou e ainda o recomeço de um novo mundo ao lado da pessoa por quem deixou tudo o que possuía, o destinatário do poema, que lhe trouxe paz, estabilidade e conforto.

Na primeira estrofe, o sujeito poético tem como objetivo ultrapassar os seus medos, como demonstra no verso "Para ver a verdade para perder o medo", e passar por situações muito complicadas e duras, junto da pessoa para a qual escreve o poema "atravessar contigo o deserto do mundo" e "enfrentarmos juntos o terror da morte".

Na segunda estrofe, o sujeito poético refere que deixou o seu mundo pelo destinatário do poema, como refere no verso seguinte, "Por ti deixei meu reino meu segredo", antes disso, as suas noites eram rápidas e preenchidas pelo silêncio. O "espelho" a "vida" e a "imagem" representam a sua identidade e, ao abandonar "os jardins do paraíso", deixa, por fim, o seu mundo e torna-se vulnerável.

Na terceira estrofe, depois de abandonar o seu próprio mundo, "cá fora", o eu poético descobre a verdade dura do mundo, desprotegida e sem a sua própria identidade, começa a sentir-se nua e vazia, num mundo onde não se reconhecia, ao qual chama "descampado".

Na quarta estrofe, apesar de tudo o que fez pelo destinatário do poema, foi este mesmo que a "vestiu", ou seja, que a reconfortou e a preencheu de novo. O sujeito poético aprende, então, a viver neste mundo calmo, pacífico e que a faz feliz, ao lado do destinatário do poema, como conseguimos perceber em "E aprendi a viver em pleno vento".

O poema é constituído por quatro estrofes, uma quadra, uma quintilha, um terceto e um dístico, tendo assim o total de catorze versos que variam entre dez a treze sílabas métricas. Tal como a maioria dos poemas desta poetisa, a rima é constituída por versos soltos, não havendo portanto nenhum esquema rimático, por exemplo "Para ver a verdade para perder o medo/ Ao lado dos teus passos caminhei".

Ao longo do texto poético estão presentes variados recursos estilísticos, como a anáfora na primeira estrofe, "Para", a repetição dos determinantes possessivos "meu" e "minha" na segunda estrofe, que realçam o quanto custou ao sujeito poético deixar o seu mundo. Em geral existem ainda várias metáforas como em "vi que estava nua" ou "cá fora à luz sem véu do dia duro", e ainda uma adjetivação muito expressiva, tornando o poema mais intenso e real.

Este poema parece-nos ser muito realista, pois demonstra uma realidade dura sobre a vida e o mundo, que a autora descreve de uma forma sensata, mas que relata a realidade de inúmeras pessoas.

Recomendamos a leitura deste poema a quem se sinta inseguro em relação às suas escolhas e esteja preso a algo que o deixe desmotivado, pois é preferível arriscarmos e sofrermos as consequências, sejam estas positivas ou negativas, do que não arriscar de todo e permanecermos infelizes. Neste poema, o sujeito poético só alcançou a sua felicidade e paz interior após ter arriscado a perda de todas as suas posses em prol da pessoa para a qual o poema foi escrito.


Isabella Porto, Madalena Reis, Maria Rita Jesus e Ricardo Borges

Escola Básica Carlos Gargaté

(C) Turma 9.º D, 2018/2019

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